Publiquei ontem O
Amor, A Vida e Os Dias. É como se tivesse tirado uma carga dos meus ombros,
pagado uma dívida para comigo mesmo. Sempre quis escrever e publicar. Passei
muitos anos escrevendo os poemas colacionados nesse livro. E, então, publiquei.
Um alívio, mas também um medo, um susto. Tudo tão fácil com o Kindle Direct
Publishing – KDP da Amazon, num instante, pronto: o trabalho exposto para o
mundo. Uma aventura.
Por que poemas? Poemas são mais fáceis para mim. Algumas
palavras, uma imagem, uma emoção, um sentimento. O poema é rápido e forte, como
um golpe preciso. Gosto dos poemas curtos, de poucos versos. Gosto dos versos
livres, com ritmo e força. O poema-imagem, o poema-ritmo, o poema-emoção.
Muitas pessoas não gostam de poesia porque, na verdade, não
entendem poesia. É como música. Geralmente ocorre que, na primeira vez que
assistimos a um concerto, procuramos mais ver que ouvir. Olhamos atentamente,
procuramos alguma coisa no palco, a expressão dos músicos, os gestos do
maestro, procuramos a imagem porque vivemos no mundo da imagem, mas ali só nos
será dado o som. É preciso escutar a música, fechar os olhos, deixar-se levar
pelo som sem ansiedade.
Nas primeiras vezes que lemos um poema, procuramos uma
história, um sentido, um desfecho, uma narrativa. E o poema nos deixa em
suspenso, uma imagem que se forma e se desfaz, poderosa, um gosto que fica, um
quê que nos faz sentir, mas não conclui, não nos conta a verdade, apenas nos
abre algumas enferrujadas portas da percepção. No começo não gostava de poesia
pelo excesso de formalismo, pelas rimas, métrica, estrofes. Quem é capaz de,
pelo menos, classificar os inumeráveis tipos de versos: alexandrinos, dáctilos,
redondilha maior e menor etc? Além disso, o poema não tem estória, não tem
sentido, o poema não informa. Mas aí conheci Bandeira, Drumond, Cecília,
Leminski e Pessoa, o eterno fingidor...
Na verdade, o poema não quer informar. O poema quer
emocionar, quer transmitir um sentimento, uma imagem, uma cor, um odor, uma
perplexidade, um choque. O mesmo choque que teve o poeta. O poema quer levar
para o leitor a mesma pancada, o mesmo espanto, a mesma surpresa. Muitos não
entendem o poema porque ficam a procurar uma narrativa, uma estória, um
sentido.
Poemas não têm sentido porque a vida não tem sentido. A
poesia expressa o nonsense do
coração. As emoções não têm razão, não dependem da razão. A razão explica a
emoção, mas as emoções não explicam nada. Somos nós que racionalizamos a vida e
as emoções, contamos para nós mesmos uma história, construímos uma narrativa
para que a emoção possa ser explicada.
Pois a poesia está antes de qualquer explicação. Pura
alegoria. Pura perplexidade. A poesia é a emoção em estado quase bruto, vem
logo depois da música. A música ainda lhe é anterior porque a música é
pré-vocabular.
É claro que há outro tipo de poesia. A poesia antiga, por
exemplo, é inteiramente narrativa. O exemplo maior é a poesia homérica e a
poesia romana clássica, que influenciou os belíssimos cordéis nordestinos.
Nesse caso, o ritmo e a métrica são determinantes para ajudar a memorizar toda
a narrativa, além de dar-lhe vida e frescor, pois, naquela época, as narrativas
passavam de geração a geração pela tradição oral.
A poesia moderna, contudo, e sem nenhum prejuízo da poesia
clássica, tem também essa outra vocação, talvez uma vocação menor, mas
maravilhosa e inebriante. A imagem, o som, a emoção antes e para além da
narrativa. Fazer poesia é construir imagens de sentimentos.
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