Escrever pode mudar tudo.


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Um Abismo Nos Separa

É difícil definir um bom conto. É extremamente difícil escrever um bom conto. Porque um bom conto é uma estória muito curta com começo, meio e fim bem definidos e que seja capaz de despedaçar o leitor, emocionar de uma maneira inusitada, nova e surpreendente. Uma emoção que nos domina e toma de assalto, de tal modo que é somente pouco tempo depois que acabamos de lê-lo que percebemos o efeito, como uma lâmina afiada que nos perfura. Primeiro vemos o sangue, depois sentimos o seu cheiro, só então vem a dor. O conto é uma dor de trás para a frente. Pode ser raiva, amor, arrebatamento, felicidade, compaixão, tristeza, mas as emoções dos contos nos derrubam sem percebermos. Se for um bom conto, será assim. O conto é algo curto e impactante. Pode ser como uma dose de cachaça que se bebe de uma vez ou como uma dose de conhaque que se saboreia aos poucos, mas é sempre algo intenso e curto.
O romance não, o romance é outra viagem. É uma garrafa de vinho que se saboreia durante muito tempo. Um romance é uma tarde inteira bebendo cerveja e jogando conversa fora com os amigos, resolvendo todos os problemas do mundo. O conto é agora. É urgente. Ainda assim, essa não é uma definição precisa porque o conto pode ser tudo ou nada, mas deve fazer algum sentido, ainda que esse sentido seja apenas uma sombra e nos escape, ou fique por muito tempo a nos rondar.
Se for capaz de impactar, deixar um gosto de queimado na garganta, descer arrombando o peito e ainda assim deixar um sabor permanente, talvez um certo travo, nada que seja doce ou amargo demais. Pronto! Acho que esse será um bom conto. Escrever um conto assim é uma graça. É quase impossível. Mas tentar escrever um conto assim, é muito divertido.