Escrever pode mudar tudo.


domingo, 18 de julho de 2010

Eugenio Montale

Talvez uma manhã andando num ar de vidro,
árido, voltando-me, verei cumprir-se o milagre:
o nada às minhas costas, o vazio atrás
de mim, com um terror de embriagado.

Depois como em painel, assentarão de um lanço
árvores casas colinas para o habitual engano.
Mas será tarde demais; e eu irei muito quedo
entre os homens que não se voltam, com meu segredo.

(tradução: Renato Xavier)

Comentário

Eugenio Montale, nas palavras de Umberto Eco, "é provavelmente o maior poeta italiano do século XX (e na minha opinião um dos primeiríssimos poetas do século XX em geral), recebeu seu Nobel apenas em 1975"


Esse poema de Montale é um dos meus favoritos. Descreve inusitamente o ar, como "ar de vidro" e fala do vazio, com o qual todos nós nos deparamos, com um "terror de embriagado", uma imagem forte e desconcertante, quase desesperadora. O poeta não se deixa abater e segue quedo.

O poema me faz lembrar a Máquina do Mundo, de Drummond, que é belíssimo. Teria Drummond se inspirado em Montale?

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