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terça-feira, 28 de março de 2017

Janela

Estou sentado ao lado de uma pequena janela de vidro. Em cada fila de duas cadeiras, há uma janela. Já viajei durante muito tempo no corredor, quando me esticava para ver lá fora. Há algum tempo consegui sentar junto à janela. É maravilhoso, o vento bate no meu rosto, assanha os cabelos e resseca meus olhos. Quando esfria demais ou quando há muita fumaça sou obrigado a fechar a janela e me distrair com algo aqui dentro. Esqueço a janela. Aqui, não há assentos marcados, vamos nos acomodando como calha.
O trem anda ora rápido, ora devagar. De quando em quando, para nalguma estação. Vejo as pessoas vendendo e comprando, o movimento agitado nas grandes plataformas, a emoção das chegadas e das despedidas, os acenos. Alguns homens, mulheres e crianças carregam bagagens imensas. O movimento tedioso nos pequenos lugares, um cachorro boceja, um homem agasalhado espera sozinho.
As paisagens jamais se repetem. Há campos floridos e desertos, há névoas densas, há noite estrelada sobre uma imensa planície. A lua clara ilumina as montanhas ao fundo. Muitos dormem, muitos dormem. Eu tento acordá-los, mostrar a beleza dalgum lugar, um cervo que corre. Muitas vezes me exasperei tentando mostrar um imenso lago, o belo, o fantástico, o absurdo. Tudo passa pela janela deste imenso trem que é como o tempo, não se detém.
Com a idade, decidi aproveitar mais a viagem. Não incomodo mais as pessoas querendo lhes mostrar isso ou aquilo. Recostado na cadeira, silencio ante o mundo que se transforma à minha janela. Fico maravilhado com o que vejo. Algumas vezes é sublime; outras, terrível. Silencio. Aos poucos vou descobrindo que é impossível mostrar a paisagem para alguém. É impossível. Cada um vê diferente.

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