Escrever pode mudar tudo.


quarta-feira, 29 de março de 2017

Abismo


















Ao Dimas Macêdo



Estiveste na beirada do abismo, oh poeta!
De lá divisaste as maravilhas da 
Pobre e esplendorosa alma humana

Suas profundezas abissais 
Os picos recobertos da neve mais branca
Onde o frio congela a ternura
E o vento fustiga dúvidas atrozes

De pé encaraste mistérios tremendos
O olhar transido e extenuado de vida
Perdido na bruma, pisaste o exato limite 
Entre teu ser e tudo que o transcende

Mais um passo era o Nada
Ninguém escapa ileso, oh poeta!
Tu traz os olhos vazados de luz
E os lábios ressecados de morte

Da beirada do abismo cantas o inefável
Anuncia profético o que nossos olhos 
Medrosos não se arriscariam a mirar
Mas nosso coração anseia em frêmito

Ah, covardes! Refugamos os desvãos da alma!
Cegos para as maravilhas do mundo
Tu és, poeta, nossos olhos

Onde só temos casca
Tu és, poeta, nossa pele
Sentimos em ti o gelo que queima
E o frio dilacerante do sol

Dois anjos te seguram ao pé do abismo
Um deles canta, o outro grita
A tua alucinação, poeta, é nosso consolo
Nas noites escuras somos nós em ti
Nas promessas do dia és tu em nós

Nagibe de Melo Jorge Neto

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