Escrever pode mudar tudo.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O Nobel e Eu

Desisto do Nobel. Mudança de planos mesmo. Nada a ver com o prêmio do Dylan, até achei bacana. É que não vai dar. Já virei o cabo da boa esperança, aquele ponto imaginário da vida onde aproximadamente metade do nosso tempo no planetinha já se foi e temos que nos dedicar ao que realmente importa. 
Pois é. Eu estava organizando as coisas para poder escrever. A poesia: o que realmente importa. Não apenas os poemas, não é a poesia como forma, mas a coisa toda, a poesia como expressão do Todo. A vida em todo o seu esplendor traduzida em letras e impressa naquelas páginas. Tinha em mira alguma coisa como o Gabo, ou Vargas Llosa, no limite o Hemingway, não falo de Tolstoi, Dostoievski, Victor Hugo, Saramago, Virginia Wolff. Era coisa modesta. Eu me animei depois que o Sarney entrou na ABL, mas nunca pensei em atingir um João Ubaldo. Sobriedade, sobriedade. 
Algumas vezes corri para comprar alguma coisa do mais novo Nobel de literatura. A última foi a Alice Munro. Profundo, intenso. Teve uma época em que, quando eu queria ler alguma coisa que me levasse bem fundo e depois me arremessasse pro alto, como se eu pudesse conhecer as profundezas oceânicas e depois ser expelido em direção à luz do sol e ao imenso céu azul , eu procurava o selinho do Nobel.
A literatura exige sacrifícios. Mergulhar bem fundo e depois ser ejetado com uma nova visão das coisas exige dedicação do leitor e imenso trabalho do escritor. Quem consegue fazer isso com as palavras é um monstro. Fazer esse mergulho não é como ouvir uma canção. Eu sei, a arte não tem limites. Mas vocês já leram Guerra e Paz? Não se musica isso. Se a Ilíada e a Odisseia fossem uma canção, dessas que a gente escuta no fim da noite tomando a última cerveja, não dava para ouvir no fim da noite.
Ninguém mais vezes que eu terminou uma noite bebendo a última cerveja enquanto ouvia Jokerman, na interpretação do Caetano. Tá bom, não foram tantas vezes assim, mas talvez ninguém tenha sido mais intenso. Li Só o Vento Sabe a Resposta, do J. M. Simmel, só por causa do título. Então, o Dylan é o cara. 
Mas o Dylan não escreve como a Virgínia Wolff, nem como o Saramago, nem como o Murakami. E o Dylan não faz com você o que o Ian McEwan ou o Philip Roth são capazes de fazer. É diferente. Não falo do estilo, falo no mergulho e do empuxo. Aquela coisa que te mata e ressuscita. O Dylan é pra escutar, não do jeito que os gregos escutavam Homero. É outra vibe. Ganhar o Nobel pode até ter ficado mais fácil agora. Mas não quero mais. Desisto. Eu queria outra coisa.

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