Aurora
Arthur Rimbaud
Abracei a aurora do verão.
Nada se mexia em frente aos palácios. A água estava morta.
Os campos de sombra não deixavam as veredas do bosque. Eu caminhava,
despertando hálitos vivos e mornos, e pedrarias me fitavam, e asas se erguiam
sem barulho.
O primeiro acontecimento, na trilha já cheia de frescos e
pálidos clarões, foi uma flor que me disse seu nome.
Sorri à loira wasserfall que se desgrenhava entre os pinheiros:
no cume prateado reconheci a deusa.
Então levantei seus véus, um a um. Pela aleia, agitando os
braços. Pela planície, onde a denunciei ao galo. Na cidade ela fugia por entre
domos e campanários, e correndo como um mendigo sobre os cais de mármore, eu a
caçava.
No alto da estrada, perto de um bosque de loureiros, capturei-a
com seus véus amarfanhados, e senti um pouco seu imenso corpo. A aurora e o
menino tombaram sob o bosque.
Ao acordar era meio-dia.
Adoro sua narrativa; ela transmite uma impressão sobre um acontecimento, ambiente ou pessoa com tanta naturalidade e leveza, que chega a ser real, confundindo, com se tivéssemos de fato vivenciado essas sensações. Gostaria poder ler mais de suas produções. Parabéns.
ResponderExcluirIsabel Melo
L'albe d'une simplicité apparente. D'un lyrisme contenu et efficace. Entre le corps et le sentiment. Salve Rimbaud!
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