O menino remexeu a terra com um pequeno
graveto, pensativo. De repente, levantou a fronte, quase sem tirar as mãos do
chão.
- Mas, pai... como é que Deus salvou o mundo?
Ele precisava deixar o filho morrer para salvar o mundo? Ele não é Deus?
O pai, que se balançava em uma cadeira ao
lado, baixou o livro.
- Hein?
- Ele não era Deus, pai? Deus pode tudo!
O homem olhou para as nuvens carregadas que
tantas vezes anunciavam chuva e não choviam. Lembrou de seu próprio pai e do
dia em que fez uma pergunta parecida. O que é salvar? Como o mundo está salvo
se todos os dias vemos tanta maldade e tantas desgraças?
- Pai! – o menino insistia, uma insistência
bem típica dos seus 10 anos.
- Salvar é dar sentido, filho. Salvar é dar
sentido.
O menino olhava meio perplexo. Voltou a
cavoucar a terra.
- Esse buraco que você está fazendo aí.
Daqui a pouco vai ser esquecido, vai chover, a terra vai se acumular dentro
dele e amanhã não vamos saber nem onde era o buraco. Mas nós podemos dar
sentido a ele. Poderíamos, por exemplo, enterrar aí um diamante precioso. Então
dificilmente esqueceríamos. Esse pequeno trabalho que você está fazendo
passaria a ser tremendamente importante. Saberíamos que o diamante está aí,
marcaríamos o lugar e lembraríamos dele porque ele contém uma pedra preciosa.
- E Deus fez isso, foi?
O homem não sabia ao certo se Deus fez bem
isso, mas resolveu arriscar e dizer da melhor forma como tudo lhe parecia.
- Quando Deus permitiu que seu único filho
fosse atingido pelo sofrimento e morresse, Deus deu sentido ao nosso próprio
sofrimento, à nossa morte. É como se todo sofrimento humano fosse o mesmo.
Quando vemos o céu, vemos o mesmo céu. Não importa as distâncias, todo ser
humano tem mais ou menos a mesma visão do céu. Todos sabemos como são as
nuvens. Na Inglaterra, onde sua tia mora, as nuvens não são muito diferentes,
nem as estrelas. Você lembra? Com o sofrimento é igual. Todos sofremos uma
parte do mesmo sofrimento, assim como vemos todos uma parte do mesmo céu. Deus
sofre conosco o mesmo sofrimento e morre conosco a mesma morte. Nosso sofrimento
não é em vão, tem sentido.
- Mas o sofrimento é péssimo, né pai? Não
dava para Deus acabar com o mal de uma vez?
O pai riu.
- Não sei, meu filho, não sei... Se
soubéssemos, Deus não seria Deus. A única coisa que sei é que a vida é feita de
alegrias e tristezas. Ninguém passa pela vida sem sofrer. A única coisa que sei
é que, quando estivermos tristes, Jesus estará lá, sofrendo conosco e nos
ajudando a encontrar sentido.
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