Escrever pode mudar tudo.


segunda-feira, 10 de abril de 2017

Uma praça virtual

As redes sociais, como o facebook, são uma ferramenta de comunicação que ainda estamos aprendendo a usar. Ninguém sabe ao certo o que é isso nem pra que serve (ou servirá). Estamos descobrindo juntos. Muito interessante termos a oportunidade de participar disso.

O certo é que o meio muda a forma e conteúdo da comunicação. Havia um tempo em que as pessoas falavam muito por cartas. Algumas coisas só eram ditas por cartas, mesmo entre pessoas que morassem na mesma casa. Aliás, quem me ensinou isso foi Standhal, em O vermelho e o negro. Quando o li, fiquei nostálgico. Lembro que tentei, por diversas vezes, manter uma correspondência com vários amigos, aqueles com quem sempre falava ao telefone. Não vingou.

Ainda hoje, há coisas que só podem ser ditas por cartas ou que ficam muito melhores ditas por cartas. Como não escrevemos mais cartas, essas coisas deixaram de ser ditas. A determinada altura, resolvi escrever cartas para a minha filha. Converso muito com ela assim, embora ela converse pouco comigo... :-). Os jovens pensam rápido, têm pressa e eu não sou mais tão jovem.

O telefone dispensou as cartas. O e-mail mudou tudo. E o WhatsApp, de novo, mudou o jeito com que falamos ao telefone. Tá todo mundo ligado e nos damos ao luxo de comunicar coisas que não comunicaríamos antes. Seria muito caro, inapropriado ou impossível. Como isso aqui que estou fazendo. Para quem eu escreveria uma carta com este conteúdo? Para quem ligaria falando estas coisas meio sem nexo?

Nas redes sociais, coisas banais se misturam a discussões políticas, que num instante se transformam em arengas. A intimidade vai da fome a reflexões existenciais passando pelos gostos. Ainda não conseguimos graduar nossa exposição no ponto ótimo. É tudo novo. Às vezes o filme sai queimado; outras vezes, escuro demais.

Essa besteirada toda do facebook às vezes nos entedia, mas também areja. Vemos as pessoas, lemos as notícias, ouvimos as fofocas. Falamos de coisas sérias e de bobagens. O facebook se parece muito com uma praça de cidade do interior. Toda cidade do interior tem a sua pracinha. Em Quixadá, todas as noites íamos pra praça ver as pessoas, conversar bobagens e coisas sérias, saber das novidades. Quem é este? Fulano. Conhece de onde? Da praça.


Há pessoas maravilhosas que conheci na praça de Quixadá. Papos incríveis. Minha relação com algumas dessas pessoas nunca se aprofundou. A praça sintetizava e moldava nossa comunicação. Hoje não temos mais a praça, temos o facebook.

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